sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

a nova ortografia

Tenho estado a estudar o novo acordo ortográfico. Cheguei à conclusão de que muda bem pouca coisa, além de acrescentar à lingua três consoantes que já se usavam - K, Y e W - de manter algumas duplas grafias e acentuações com acento agudo ou circunflexo em palavras esdrúxulas (económico-econômico). O que mais incomoda os portugueses é a eliminação de consoantes mudas a que estamos habituados mas que não fazem grande falta (p. ex. sector-setor, acção-ação). Atenção: desaparecem os tremas no Brasil (p. ex. delinqüir-delinquir, tranqüilo-tranquilo).

Porquê, então, tanta animosidade?
Conheço relativamente bem o Brasil e vendo lá perto de 1/3 do que escrevo. Tenho mesmo um neto bi-nacional.
No Brasil há ainda um «complexo do colonizado» que leva alguns brasileiros a imputarem aos portugueses a culpa dos seus defeitos, assim com aqui há ainda um complexo imperial que leva muitos portugueses a considerarem-se os donos da língua. São duas atitudes erradas e, posso dizê-lo, muito minoritárias em ambos os países.
Mas há uma política externa americana persistente em afastar os países da américa do sul em relação aos seus ex-impérios: Portugal-Brasil; Espanha-México, etc. Esta política tem apoiantes em ambos os países, a maior parte inconscientemente. No Brasil, nem toda a população tem origem ou laços portugueses e os pró-americanos quiseram separar as línguas e criar uma «língua nacional». Houve um congresso filológico em que se decidiu - bem - que as diferenças existem também dentro de cada um dos países e que a língua portuguesa é aquela que é falada pelos povos que falam português. Eu estava lá e acompanhei. Achei engraçado o carácter circular da fórmula, que nem por isso, é menos eficiente.

A separação das línguas seria dramática para Portugal, que ficaria com uma «linguinha», falada apenas por 11 milhões, que rapidamente perderia o estatuto de língua de primeira classe para o brasileiro, e acabaria até por deixar de ser língua oficial na UE, no Vaticano, etc. Era a falta de unificação que impedia que o português fosse língua oficial da ONU, embora os brasileiros nunca deixem de a usar (o que os portugueses incompreensivelmente não fazem). Seria mesmo péssimo encontrar nos vários softwares de texto a referência a, pelo menos, oito, línguas portuguesas.

Com o acordo ortográfico a língua portuguesa é só uma, falada por perto de 250 milhões de pessoas (195 milhões são brasileiros), e fica em 7º lugar no mundo. É uma língua de primeira dimensão.
Há outra vantagem, que não é de somenos: permite que os tratados internacionais entre Portugal e Brasil, p. ex., deixem de ser escritos em dois instrumentos.

Pesados os prós e os contras, estou decididamente a favor da unificação da língua.

Posso confessar que gostava mais da versão - essa também unificada - do português que se escrevia no séc. XIX, no tempo dos bons escritores. Mas fomos nós, no tempo da Primeira República, que a estragámos, sem dar cavaco aos brasileiros.

1 comentário:

  1. Francamente não percebo a necessidade do "Acordo", de que só irão beneficiar as Editoras.

    Todos os falantes de Português se entendem perfeitamente uns aos outros.

    A língua portuguesa é só uma, que pode ter grafias diferentes, como acontece, p.ex., e sem quaisquer problemas, com o Inglês e o Francês. (Não me consta que tenham desaparecido e, muito menos que tenham deixado de ser línguas oficiais na UE).

    Aliás, não há 8, mas apenas 2 versões do Português, uma vez que as ex-colónias ainda usam a nossa grafia.

    Mas, pronto: assine-se o tal "acordo", para ONU ver. Depois cada um escreve à sua maneira, que é o que fazem os brasileiros.

    Só queria que não impingissem às crianças portuguesas o Português(BR). Aí sim, perdiamos a nossa língua.

    Quanto aos Tratados, estou-me nas tintas: ninguém os lê.

    Saudações amistôsas.

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