sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

ano novo

Pela primeira vez na minha vida, vou entrar o ano com uma perpectiva totalmente pessimista. O ano de 2011 vai ser pior que o de 2010 e o de 2012 ainda pior.
Não tenho nada para celebrar e não vou fingir.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

caro primeiro-ministro

Caro primeiro-ministro é o modo mais adequado de nos dirigirmos ao primeiro ministro mais caro da segunda república.

domingo, 26 de dezembro de 2010

vai-lhes custar

Quando eu entrei para a Faculdade, em 1965, não havia praticamente carros estacionados na Cidade Universitária. Os alunos (entre eles, eu) chegavam lá e de lá saíam de autocarro. Eramos felizes, divertíamo-nos e achávamos (tínhamos a certeza) que íamos mudar o mundo (e mudámos). Queríamos casar para sair de casa e ter a nossa independência. Criávamos família em casas quase completamente desprovidas de confortos e de electrodmésticos. Arrendadas... ninguém tinha dinheiro para comprar. Vivia-se com pouco, mas vivia-se muito.
Agora não se consegue estacionar um carro na Cidade Universitária, os alunos vêm e vão de carro, não acreditam que o mundo mude, não casam nem saem de casa para não terem de depender de si próprios. Quando fazem família (sem casar), é em casas compradas, com tudo o que é o último grito de electrodomésticos e electrónica, fazem férias no estrangeiro, vivem com dinheiro.
Mas o mundo mudou mesmo... outra vez. E vai voltar a ser o que era. A minha geração já conheceu tempos de menos dinheiro e menos conforto; esta geração ainda não: vai-lhes custar a adaptar.
A economia vai possivelmente voltar para o que foi nos anos sessenta. Para mim, não será coisa grave; para esta geração vai ser uma catástrofe.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

expliquem-lhe em banda desenhada

Ministério das Finanças: corte do rating de Portugal pela Fitch é “difícil de compreender” (Público).

Eu também acho que Teixeira Santos ainda não percebeu. Como também não percebeu o disparate que foi nacionalizar o BPN... e não percebe, em geral, nada do que anda a fazer como ministro.

Teixeira Santos ainda não percebeu a diferença entre os argumentos invocados para os cortes de rating e as verdadeiras razões que os determinam. Os argumentos são fáceis: baixa o rating por ter cão e por não ter cão. Todas as políticas têm as suas desvantagens e há sempre uma maneira de argumentar o corte do rating. Os cortes do rating continuarão. Se Portugal tiver uma política de austeridade, será porque a economia vai entrar em recessão; se tiver um política expansionista, será porque as finanças vão desequilibrar.

A verdadeira razão é outra. Portugal vai ao mercado com os cofres vazios, em situação de total incapacidade de negociação e sem qualquer alternativa senão ter de aceitar quaisquer taxas, sejam elas quais forem. Esta é a maneira mais estúpida de o fazer. É claro que as agências de rating - que são contratadas e pagas pelos emprestadores - fazem as baixas de rating que forem adequadas a justificar a subida dos juros da dívida portuguesa (aliás, os custo dos CDSs correspondentes). Porquê: porque os agentes do mercado ganham mais dinheiro assim. Ganham mesmo fortunas, eles estão lá para isso: vão buscar o dinheiro a taxas baratas e colocam-no a taxas caras naqueles tontos dos portugueses.

São as leis do mercado: quem aparece deseperado e sem alternativa, em situação de carência absoluta, paga o preço que os outros fixarem. É uma prática usurária? Pois é. Mas o que é preciso é não ir ao mercado em situação de tal inferioridade, necessidade e dependência.

O mais grave défice português, na verdade, é o défice de inteligência e competência no Ministério das Finanças. Teixeira Santos vai continuar a não perceber. Eu, que não tenho jeito para o desenho, peço a quem tiver que lhe explique isto em banda desenhada.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A esperança não se fundamenta na abundância de bens.

Excerto da homilia do Bispo D. Carlos Azevedo na missa da 11:00 horas na Igreja da Santíssima Trindade em Fátima:

Tantas vezes, como na actual situação, não se vê logo, as coisas não andam, a vida não corre, ninguém se ouve de modo a guardar no coração. Como ser aqui profeta da esperança? Nesta hora europeia, onde se dá o ultimo suspiro de um mundo velho, próximo de desaparecer!

A esperança não se fundamenta na abundância de bens. O que endireitará o caminho do futuro será o afastamento firme de mentiras tortuosas da contabilidade, de contracurvas financeiras, de paraísos que são inferno para a economia real, de descrédito da poupança, da perda dramática da confiança, de atentados à criação. O que nos permitirá não ser cana agitada por qualquer vento de crise será uma educação consistente, uma justiça eficaz e pronta, uma ética rigorosa no controle do Estado. A situação precária haveremos de mudá-la em estável. Deus, por Jesus, acompanha-nos nas lutas e no empenhamento de libertação até ao último dia.

A esperança que nos ilumina jorra de um Deus libertador da escravidão dos poderosos, esquecidos de que serão eles as vítimas da pobreza em que nos deixam. É muito curta a visão dos que se julgam acima dos desempregados porque terão de trabalhar para os sustentar. Caem na própria rede os que não esclarecem a sua posição sobre a salvaguarda do ambiente e da criação. Há-de vir um momento e não tardará, em que, como nos tempos antigos, se saldem todas as dívidas e se recomece de novo, como em ano jubilar.

Para já, a esperança empenha a nossa vontade em libertar de perigos a estrada futura, em exigir uma política que não profane a dignidade de nenhum cidadão, que não crie desolação em quem constrói, na proximidade dos pobres, vias de promoção humana: no ensino, na saúde, no apoio às crianças e aos mais idosos.

Repartir o trabalho, regressar à agricultura, optar pela austeridade, no estilo de vida, serão hoje sinais claros da liberdade.

domingo, 5 de dezembro de 2010

o código alexandrino

Este é o código de acção de uma minha amiga que é um estupor:

1. Nunca faças sombra ao chefe.
2. Nunca confies demasiado nos amigos, mas aprende como usar os inimigos.
3. Esconde as tuas intenções e diz sempre menos que o necessário.
4. Defende a tua reputação como a tua vida e chama a atenção para ti a todo o custo.
5. Põe os outros a fazer todo o trabalho e obtém todo o crédito.
6. Faz com que as outras pessoas sejam atraídas por ti por simpatia ou por interesse.
7. Vence pelas tuas acções e não pelos teus argumentos.
8. Evita os infelizes e os que não têm sorte.
9. Sê macia com os superiores e dura com os inferiores.
10. Não permitas que um subordinado tenha melhores habilitações que tu

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

loan sharks 2

Depois da Grécia, a Irlanda; depois, Portugal e a Espanha; depois a Bélgica... um a um lá vão todos os Países da Europa.
Diz-se que são os 'mercados', mas não há mercado onde há concertação e tudo isto é claramente concertado num ataque especulativo contra o Euro, feito com a táctica do salame, País a País, um de cada vez, até ao último.
É fácil, é barato e dá milhões: basta ir buscar dinheiro barato a um lado e aplicá-lo caro no outro.
E não vale mais a pena adoptar orçamentos de miséria, reduzir salários, aumentar impostos: os loan sharks, como tubarões que são, continuarão a atacar em cardume e nunca irão parar enquanto não acabarem com eles.