sábado, 19 de maio de 2012

o erro dos economistas

De há uns vinte anos para cá que discutia com os economistas meus amigos que diziam que o que interessava eram os serviços (principalmente os serviços financeiros) e o consumo. A poupança, a produção e a exportação eram ecomomia antiga. E ridicularizavam a Alemanha por continuar a produzir indústria pesada e a exportar máquinas-ferramentas e bens transacionáveis. Eu bem dizia que não se pode consumir sem produzir, mas respondiam-me com o crédito. Mais ainda: defendiam que era inaceitavelmente ineficiente não usar de toda a capacidade de endividamento. Baixava a produtividade. Como principal argumento invocavam o Economist que todas as semanas rezava este mesmo sermão.

Foi o que se viu. Baixou a produção e com ela a exportação; baixou a poupança e o investimento; as pessoas e as empresas afogaram-se em dívida. Quando os mercados financeiros desalavancaram, o crédito rareou e encareceu. Há falências em série, desemprego em massa, défice comercial e financeiro.

Não estão de parabéns os economistas.

a Justiça ou a carreira dos magistrados?

O sistema judicial português existe para garantir o acesso à Justiça.
Porém, tem servido também de suporte à carreira profissional dos magistrados que o integram.
O objetivo de garantir o acesso à Justiça não pode, porém, ser postergado nem subordinado à carreira profissonal dos magistrados.
O sistema de auto-controlo das magistraturas determinou, na prática, a supremacia da carreira dos magistrados sobre o acesso à Justiça. O sistema de conselhos dominados por magistrados teve esse efeito nocivo e não pode manter-se.
Cada vez menos pessoas, em Portugal, acredita no sistema judicial. O escândalo das prescrições em processos criminais em que sejam acusadas pessoas importantes, as demoras excessivas nos processos comuns e as decisões cada vez mais incompreensíveis, minaram a confiança.
Cada vez mais desacreditado e menos eficiente, o sistema judical português tem de ser urgentemente reformulado de modo a repor a prioridade da Justiça sobre a carreira dos magistrados.
Não pode continuar assim por mais tempo.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

1946

Commonsense nasceu em 1946. A Europa ainda fumegava. Havia dôr, sofrimento, luto, miséria, destruição por todo o lado. Foi preciso reconstruir as pessoas e as coisas. Isso só se fez à custa de muito perdão, de muita abdicação, de muita solidariedade. Vivia-se com pouco e não se exigia nada. Partilhava-se o que havia.
Que diferente é tudo agora. A classe média mais rica do mundo indigna-se porque se acha menos rica do que devia. Não dá uma uva, quer tudo.
Os mais ricos furibundam-se com o que têm de partilhar com os mais pobres. E, no entanto, quem dera a tanta gente no mundo ter a pobreza dos pobres da Europa.
O pior ainda foi terem abdicado da sua condição de pessoas livres e pensantes para se transformarem em consumidores insaciáveis. Consomem conteúdos nos jornais de fim-de-semana, no pronto-a-vestir das ideias feitas. E repetem acriticamente o que colheram nos enlatados mentais concordando uns com os outros. Não pensam com a cabeça, ruminam com os estômagos.
São infelizes... e é bem feito!

quarta-feira, 9 de maio de 2012

o iva europeu e os eurobonds

Já quase toda a gente compreendeu que o problema financeiro europeu só se resolve com uma maior integração económico-financeira na Europa comunitária.
Commonsense concorda com a proposta constituição de um ministério europeu das finanças, mais ainda, da economia e finanças, que receba a receita de IVA de toda a eurozona (primeiro só da eurozona, depois de toda a União) e a redistribua em projetos de desenvolvimento pelas zonas onde for mais necessário, de modo a realizar a integração e harmonização económica na Europa e a eliminação das diferenças estruturais de desenvolvimento. Esse ministério teria também a competência exclusiva para emitir os Eurobonds.
Seria um passo de gigante na construção da Europa.
Muita gente estranhará, mas é mesmo imprescindível.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Chelsea tractor - o tractor da Lapa

Os ingleses chamam «chelsea tractor» àqueles jeeps de luxo - 4x4 - que nós vemos por aí a serem exibidos como manifestação exterior de riqueza.
Só o delicioso humor inglês era capaz de inventar esta designação. Chelsea é o bairro mais chique - ou mais novo-rico (se se preferir) - de Londres. Daí graça. Chesea tractor, é uma delícia.
Traduzido para português: o tractor da Lapa.